Escrevo
esse relato ao mesmo tempo que estou ajudando, com palavras de conforto pelo
whatsapp, uma mãezinha de anjo que está passando por um processo de aborto
espontâneo.
Esse
é um lado da minha vida.

Um
lado forte que descobri quando eu tive bolsa rota e fiquei internada por uma
semana. Meu filho, Dante, acabou
nascendo prematuro de 22 semanas no dia 23 de outubro de 2018 às 12:22 e veio
falecer às 14:10 do mesmo dia.
Nesse
tempo internada eu sofri vários tipos de violência obstetrícia, vários direitos
meus foram negados e chegou a um ponto das minhas amigas chamarem uma advogada
com medo que eu fosse morta lá dentro por um descuido ou descaso.
Sai
do hospital sem meu filho. Ele já estava entregue a Deus, mas eu senti que
podia fazer mais, fazer algo por essas mulheres que também perderam os seus
filhos e por aquelas que nem sabem o tanto de coisas que podem acontecer na
gravidez ou ainda com o nosso corpo!
A
gravidez foi um momento novo para mim e mesmo tendo acompanhado de perto,
somadas, sete gravidezes das minhas irmãs, comigo foi diferente. Eu me vi
perdida, com espinhas, com sonhos mega reais em que eu agredia pessoas!
Eu
me sentia deslocada e sem saber o que fazer, a gravidez para as outras mulheres
eram descritas como tão perfeitas que dava medo ser tão estranha e quando ainda
por cima meu bebê se foi eu descobri um outro mundo.
Um
mundo que não é falado, um mundo que não fica na primeira página das redes
sociais sobre maternidade. Um mundo que se a gente deixar, fica ali preso na
nossa garganta, só sufocando, e nos faz perder as forças.
Eu
me vi nessa nova via com duas opções: sofrer calada eternamente ou tentar fazer
alguma coisa para ajudar. Eu decidi me doar para ajudar as pessoas.
Sempre
fui feminista e tempos antes da gravidez eu criei um grupo no Facebook chamado
D’mulher, justamente para dizer as mulheres que o que é D’ mulher é o que ela
quiser. Um grupo voltado para emponderamento e diversão, mas depois da minha
experiência eu decidi ir além e começar a aprofundar os assuntos e alertar sobre
os vários tipos de motivos para abortos existentes, sobre o nosso corpo, sobre
os nossos hormônios.
Entrei
em grupos sobre perdas e virei uma administradora de um grupo no whatsapp de
um. Isso tudo já tem quase dois anos e eu tive a oportunidade de ver mais de 60
mulheres realizarem o sonho de ter o seu bebê arco-íris.
Eu
comecei a dizer a mim mesma que o meu DANTE significava Do Amor Nasce Também Esperança
porque é assim que o meu amor de mãe começou a significar depois da chegada e a
breve partida do meu filho.
Eu
tenho esperanças de um dia, mais preparada, ter um bebê de novo. Eu tenho
esperança que outras mulheres consigam realizar o sonho da maternidade
tranquilamente e sem culpas.
Eu
tenho esperança que possamos ser tratadas com respeito e humanidade dentro de
uma maternidade.
Eu
tenho várias esperanças...

Nenhum comentário:
Postar um comentário